Por Marina Passos
Michaela Coel debutou em nossas telas com a surreal sitcom Chewing Gum, sobre uma religiosa garota de 24 anos que decide perder a virgindade. Agora, cinco anos depois, a atriz, roteirista, diretora e produtora está de volta com uma criação totalmente: I May Destroy You.
Enquanto Chewing Gum era um olhar estranho, mas cômico, sobre os pensamentos da jovem de uma periferia londrina, I May Destroy You é sobre a natureza destrutiva do sexo. Uma coprodução entre HBO e BBC, trata-se de um esforço criativo que aborda tópicos muito atuais de formas repletas de nuances e lida com o espinhoso tema do abuso sexual com uma honestidade inabalável. Para construir o mundo da série, Coel se inspirou na sua própria experiência traumática de ser abusada sexualmente, um fato que ocorreu enquanto ela escrevia um episódio para a segunda temporada de Chewing Gum.
Durante o desenvolvimento do projeto, a atriz recusou qualquer acordo que não lhe entregasse total controle criativo, incluindo uma oferta de 1 milhão de dólares da Netflix. Em vez de aceitar qualquer coisa próxima aos negócios normais, ela exigiu transparência e conseguiu. Seu acordo com a BBC lhe deu total controle e direitos sobre I May Destroy You e ela também foi responsável por escrever, dirigir e ser produtora executiva de todos os episódios da série.
A trama de I may destroy you
Coel interpreta Arabella, uma escritora em seus 30 e poucos anos e autora do best-seller Chronicles of a Fed-Up Millennial, inspirado na sua conta no Twitter com milhares de seguidores. A série começa na Itália com a nossa protagonista se despedindo de seu amante italiano, que não está disposto a se comprometer em mais do que alguns encontros casuais.
Após seu retorno a Londres, ela precisa se esforçar para lidar com o bloqueio criativo e conseguir terminar o primeiro rascunho de seu novo livro a tempo. Mesmo com o prazo apertado, as palavras não conseguem lhe vir a mente e ela resolve dar uma saída rápida para encontrar seus amigos, que logo vira uma noitada. No dia seguinte, ela acorda no escritório, sangrando e com pouca ou nenhuma lembrança de como chegou lá, exceto pelo flashback constante de um homem sobre ela em um banheiro enquanto um ataque sexual acontece. É aí que ela se dá conta de que sua bebida foi alterada.
A história é toda contada do ponto de vista da protagonista. Nada da noite em questão é mostrado, além do que a própria Arabella já sabe. Imagens dela cambaleando e caindo no chão enquanto luta para abrir as portas do bar são abruptamente cortadas para a cena no escritório escrevendo em seu computador. A tela do telefone dela está quebrada e há um corte em sua testa. Observamos a sua desorientação durar por todo o dia seguinte e, junto dela, descobrimos cada novo elemento que confirmam o que ela e nós, o público, já suspeitávamos desde aquela primeira imagem do homem que a estuprou.
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Ao longo de 12 episódios, Arabella tenta juntar as peças dos acontecimentos da noite, processar o trauma e conseguir que seu estuprador seja indiciado – tudo isso enquanto perde vários deadlines e navega pelas complexidades de seus relacionamentos com amigos, família, ex-namorados e atuais, além de uma base crescente de fãs online.
I May Destroy You está sendo considerada por alguns portais de notícias o drama do ano e muitos a compararam com Girls e Fleabag. Porém, o que a distingue das demais é sua capacidade de transformar o que poderia ser um trauma inenarrável em uma afiada, divertida e complexa história sobre a natureza da existência. Lidam-se de frente com temas como consentimento e comunicação nas relações sexuais, racismo e questões de raça, a convivência com traumas e os riscos e as recompensas da vulnerabilidade.